Atella, a estrela do reality show que ele mesmo criou


Por W.F. Padovani, para o Diário de S.Paulo

Do alto de sua dissimulação contumaz, o contador, e como ele se define office boy de luxo, Antônio Carlos Atella Ferreira, principal pivô no caso da quebra de sigilo do Imposto de Renda de Verônica Serra, a filha do candidato a presidente pelo PSDB José Serra, se sente como um ex-BBB que ganha súbita fama - e, ainda que passageira, se refastela com ela.

Participante desse imaginário reality show que ele criou em sua mente, Atella se considera não apenas um big brother que saiu logo nos primeiros programas da série - mas o ganhador do prêmio máximo dela. O homem que em breve, ainda segundo a fantasia dele, cairá nos braços do Pedro Bial.

Procurado insistentemente pelo Diário de S. Paulo, e pela imprensa de todo o país, Atella, mesmo no olho do furacão de um dos maiores escândalos políticos recentes do país, viu na crise uma oportunidade de aparecer - e virar um astro. Um astro que escolhe quando e onde falar.

Num dos inúmeros contatos feitos pelo Diário, respondeu “Me liga mais tarde. Agora estou indo para Cananéia descansar um pouco”, como se estivesse realmente saindo de uma exaustiva série de TV - ainda que o destino não tenha o glamour de uma Côte d'Azur. Em outro, atacou: “Pede para a produção do jornal ligar. Ah, o jornal não tem produção. Que coisa, o César Tralli da Globo tem". Com sua repentina fama talvez Atella ainda não tenha tido tempo de contratar um assessor de imprensa que o avise que as TVs têm sim produção para realizar suas reportagens, e os jornais não.

O caos à sua volta aparentemente não o atormenta. “Na minha vida está tudo indo às maravilhas conforme a lei permite”. Ao ser questionado se, além da lei, Deus vem fazendo parte de seu dia a dia, ele proferiu uma estranha teoria de bate-pronto: “Deus não dá notícia nem vende jornal”.
E mais. “Entra no meu site que lá tem um grupo de assessores internacionais meus para dar respostas”, emendou. “São integrantes da ONU preparados para isso”. Claro que o tal site dito por ele não existe. Cai no de uma empresa de decoração e paisagismo de Niterói que não tem nada a ver com esse enredo.

Com uma inconsequente desfaçatez que talvez explique seus atos, disparou em outro momento: “Que horas é mesmo o fechamento do jornal? Às 8? Então me liga às 10.” Com seu relógio, e moral, particular, Atella segue a vida ainda sem conseguir explicar como conseguiu uma cópia do Imposto de Renda de Verônica Serra usando documento com assinatura comprovadamente falsa dela.

Mas ele, o fictício BBB de si mesmo, não está nem aí com essas formalidades da lei. Para ele, ao que parece, só importa a glória - embora no caso dele uma glória nada edificante - de celebridade. “Agora não posso dar entrevista porque tem uma TV do Japão me entrevistando para saber qual a temperatura aqui em São Paulo”, ricocheteou ele diante de uma nova insistência da reportagem.

A temperatura em São Paulo na tarde de ontem estava muito alta para o inverno. Mas certamente menos alta que o ego de Atella diante das ilusórias luzes do refletor que ele, e só ele, parece enxergar em sua direção rumo ao estrelato.

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