Nariz roxo
Já com as pontas dos dedos gastas nos treinos de jiu-jítsu, ainda amargo um nariz roxo – aquele por qual tanto zelei. Não vejo muita explicação em gostar tanto deste esporte, mas o fato é que amo. A gente esmerilha as articulações até quase se reduzirem a pó. Ao longo dos anos, a dor é geral e pior que isso é que nos acostumamos a ela. A exaustão dura até o dia seguinte. E aí começa tudo de novo, em um círculo vicioso. E a gente gosta. Vá entender.
O ser humano sente prazer em superar seus limites. Como se houvesse um ser, uma entidade, sei lá, um sugestionador olho que estivesse ali para nos hipnotizar. Ter na rotina uma arte marcial é desafio contra os outros e contra você mesmo. Dói e a gente sente na pele. Não é como xadrez, jogo nobre (que adoro) cujo vencedor tem o ego afagado e o perdedor a alta estima prejudicada . O jogo aqui, companheiros, é mais dolorido. Refiro-me a brincar com a integridade física. Luta é para poucos que sabem brincar.
Meu pescoço já não vira completamente para o lado direito há alguns anos, meu osso ilíaco já saiu do lugar e me presenteou com dores lombares horrendas. Quando olho minhas mãos vejo mais um ônus do esporte. O que aconteceram com elas? Minha clavícula do lado direito nunca mais voltou ao lugar há uns 5 anos em um acidente de treino e faz barulho quando levanto e desço o braço. Meu ombro direito também nunca mais foi o mesmo desde então, quando romperam-se ligamentos e ele foi deslocado para trás, e, o osso de cima, o acrômio, luxado: quando durmo de lado, ele dá uma pequena rebolada, quase sutil, mas barulhenta, o suficiente para me acordar. Tenho areia nos ombros, nos joelhos, nos dedos das mãos e no maxilar (fora os desvios de ATM, de tantos estrangulamentos na boca).
Acho que me esqueci por mais de uma década como a mulher é frágil.
Comentários
Final do ano passado, no último treino do ano, rompi totalmente o ligamento do cotovelo. Fiquei e ainda estou arrasada.
Hoje, após chegar da fisioterapia, vi que um amigo compartilhou seu depoimento no meu facebook. Além de trazer a tona sentimentos que só quem treina conhece, ele me deu conforto no momento em que me preparo para fazer a cirurgia reparadora.
Obrigada, Fabi.
Ass.: Alguém que já apanhou de você ;P
Ser mulher não é fácil, principalmente em esporte que exige alta performance e você treina em pé de igualdade com o sexo oposto.
Já treinamos juntas? Em qual academia?
Espero que dê tudo certo com a cirurgia e que você não desista. Não se esqueça: nós mulheres somos todas vencedoras.
;-)